República de republicanos

Rafael Cervone*

         A  Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, tem sido tema de análises críticas e revisões factuais sobre a maneira como ocorreu, incluindo o reconhecimento da dureza dos primeiros governos subsequentes. Embora não devam ser negados os estudos e pesquisas da História e das ciências sociais sobre como chegamos a tal forma de governo há 134 anos, é muito importante saber como a utilizaremos em termos práticos em favor de um Brasil melhor.

Assim, cabe reiterar que ser republicano, além de definir uma crença política, pressupõe acatar os valores da democracia e a isonomia de direitos entre todos, repudiar privilégios e corrupção, cumprir as leis e ter conduta cívica. Tais princípios nos levam a refletir sobre outra celebração expressiva deste mês, o Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro. É uma data que nos lembra a mesquinhez do preconceito e da discriminação e reforça a relevância da diversidade e inclusão, numa sociedade na qual todos são iguais.  

Ser republicano também implica respeitar as distintas opiniões e a liberdade de expressão e pensamento, resgatando o debate saudável e entendendo que ideologias diferentes não significam atitudes truculentas e ruptura do diálogo. A divergência e o pluralismo de pensamento podem ser bastante construtivos. Tanto quanto estar atento às fake news, rejeitando-as e não as repassando. O bom exercício das interações sociais, nessa visão mais ampla, é uma responsabilidade dos cidadãos, empresas, instituições da sociedade civil, entidades de classe e governos.

Nesse sentido, cabe aprimorar as políticas públicas de saúde, educação, cultura, habitação, infraestrutura de saneamento básico e mobilidade, segurança e geração de empregos. São prioridades que condicionam nossa capacidade de promover a inclusão socioeconômica, reduzir desigualdades e multiplicar as perspectivas de uma vida melhor para as sucessivas gerações. É urgente, ainda, intensificar as ações de combate à insegurança alimentar.    

      Outra missão de nossa República, conforme preconiza o estudo Diretrizes prioritárias – Governo Federal 2023-2026, da Fiesp e do Ciesp, é criar condições favoráveis para acelerar a transição do Brasil à economia verde. Para alcançar tal objetivo, é necessário descarbonizar e conferir maior segurança à matriz energética. Além disso, será preciso maximizar nosso grande potencial da bioeconomia e investir em pesquisa e ciência, visando ao fomento tecnológico e à inovação.

Os desafios são imensos, mas as oportunidades, maiores ainda. Precisamos aproveitá-las, pois temos muito a oferecer ao nosso povo e ao mundo. Para isso, porém, é necessário, mais do que viver numa República, ser de fato republicano, na melhor e mais correta acepção da palavra.

Nessa jornada dos brasileiros, a indústria é uma das protagonistas, não só pelos empregos que gera, aporte tecnológico, redução da dependência externa e valorização da pauta de exportações, como pela postura que tem adotado em defesa do respeito, diversidade, inclusão, produção limpa e aderência aos preceitos da governança ambiental, social e corporativa (ESG). Esta tem sido uma firme postura do setor industrial, buscando contribuir para que nossa forma de governo e a democracia nos conduzam ao desenvolvimento.

*Rafael Cervone, engenheiro e empresário, é o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).


Roncon & Graça Comunicações
Jornalistas: Edécio Roncon / Vera Graça

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