Duas pesquisadoras da USP revelam que há mais matemática na computação do que você pode imaginar
Em dois episódios do programa “A matemática no divã”, as estreitas relações que unem matemática e computação são explicadas pelas professoras Thaís Jordão e Marina Andretta
Elas deram os primeiros passos na computação e descobriram que havia muita matemática ali, o suficiente para que jamais abandonassem a área. A ligação entre computação e matemática une as histórias de duas pesquisadoras do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos: Marina Andretta e Thaís Jordão.
Técnica em Informática pelo Centro Paula Souza de Rio Claro, no interior de São Paulo, Thaís aproveitou a oportunidade de cursar Matemática, pois havia um campus da UNESP na cidade que oferecia essa opção. “Quando eu ingressei na Universidade, foi um susto, porque aquela matemática que eu achei interessante no ensino básico era completamente diferente na Universidade. Por outro lado, foi surpreendente, e eu acabei me apaixonando pela área”, revelou a pesquisadora durante o quarto programa “A matemática no divã”, exibido na Rádio UFSCar e disponível na íntegra neste link: https://icmc.usp.br/e/71f2b.
O susto de Thaís tem a ver com a forma como a matemática é apresentada em cada etapa da vida escolar: “No ensino médio, a matemática que a gente aprende é mais instrumental, são mostradas ferramentas e você só precisa saber usá-las”. Já na Universidade, Thaís explica que o foco está em como essas ferramentas matemáticas são construídas. Aliás, esse é um dos pontos de contato entre a matemática e a computação: o raciocínio lógico usado para resolver um problema matemático ou demonstrar um teorema segue um passo a passo bastante similar ao empregado para elaborar um programa de computador. “A matemática está em todo o algoritmo. Todo o algoritmo é baseado em algum teorema”, acrescentou Thaís.
“Você tem que definir cada passo para executar a tarefa que você deseja tanto na matemática quanto na computação. Então, o pensamento é muito similar”, destacou a professora Marina Andretta no quinto programa “A matemática no divã”, também exibido na Rádio UFSCar e disponível na íntegra neste link: https://icmc.usp.br/e/b7a8a.
Filha de uma professora de matemática, tudo o que Marina dizia que não queria ser na vida era professora de matemática. Então, escolheu cursar Ciências de Computação no Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, em São Paulo, depois de concluir o curso técnico em Processamento de Dados em uma escola particular de São Bernardo do Campo, cidade em que nasceu. Acontece que, ao cursar computação, Marina descobriu que gostava mesmo era de uma área da matemática aplicada chamada otimização. Então, enveredou pelo mestrado, doutorado e pós-doutorado nesse campo, até que, em 2009, tornou-se professora no ICMC. Já Thaís começou a dar aulas no Instituto em 2014, onde também concluiu o mestrado e o doutorado.
A matemática que a gente não vê – É fácil enxergar como a computação permeia nosso dia a dia, mas poucas vezes nos damos conta do quanto a matemática também está presente no nosso cotidiano. Para ajudar os ouvintes a enxergarem essa matemática que quase ninguém vê, Marina apresentou exemplos de sua área de pesquisa: “Imagina que você fez compras no supermercado, chegou em casa e precisa guardá-las no armário. Você não pode colocar duas coisas no mesmo lugar e não pode deixar nada para fora. Então, seu objetivo é colocar o maior número possível de produtos dentro do armário. O problema de decidir onde você põe cada peça que comprou no armário é algo que, em otimização, chamamos de empacotamento”.
Esse problema é similar ao enfrentado quando vamos fazer uma mudança e precisamos alocar todos os objetos dentro de um caminhão: “É como se o caminhão fosse o armário e seus pertences, as compras do supermercado”. A situação em muito se assemelha aos desafios que uma criança enfrenta quando está brincando com blocos de montar, uma das atividades prediletas de Marina na infância.
Foi na infância também que Thaís aprendeu a admirar as orquídeas, trabalhando quando jovem no orquidário de sua mãe e de seu pai, que é biólogo e orquidófilo. “Para julgar uma orquídea, os especialistas sempre apelam para a simetria na determinação de beleza e qualidade da planta”, explica a professora. “Do ponto de vista da análise matemática, que é a área que eu estudo, a simetria significa que você só precisa ter 50% da informação para saber o todo. Então, se você sabe que uma orquídea é considerada simétrica, e você tem meia fotografia dela, você é capaz de inferir como ela é no todo.”
Outro ponto de contato entre as trajetórias das duas pesquisadoras é a atuação em prol da igualdade nas ciências exatas. Desde fevereiro, Marina preside a Comissão de Inclusão e Pertencimento do ICMC e revelou, no programa, os principais desafios que têm pela frente. Já Thaís prossegue na luta por dar mais visibilidade e voz às mulheres que atuam nas ciências exatas. Em 2017, criou o projeto Ciência que Elas Fazem na USP São Carlos, um ciclo de palestras mensais que falava sobre cientistas das áreas de matemática e física. No mesmo ano, foi a responsável pela mostra Elas expressões de matemáticas brasileiras, que contou a trajetória de oito matemáticas brasileiras. Por causa dessa mostra, o Comitê para Mulheres em Matemática da União Matemática Internacional a procurou para coordenar um projeto em homenagem à primeira mulher que ganhou a Medalha Fields, a maior honraria da Matemática. E assim nasceu a exposição Remember Maryam Mirzakhani.
Para ouvir os relatos dessas duas pesquisadoras na íntegra, basta acessar o quarto e o quinto episódios do programa A matemática no divã no site da Rádio UFSCar ou no canal do podcast no Spotify. Nos áudios, você encontrará muitos outros exemplos do quanto a computação está relacionada com a matemática, e também compreenderá porque a diversidade é tão importante para o desenvolvimento científico em qualquer área do conhecimento.
Sobre o programa – A matemática no divã é um programa de rádio feito para escutar as vozes das mulheres que se dedicam ao estudo das ciências matemáticas. No formato de entrevista, a iniciativa promove bate-papos com uma pesquisadora a cada mês. Além de contribuir com o debate sobre a desigualdade de gênero na matemática, as conversas buscam desconstruir as percepções negativas que costumam ser associadas à área.
Com 30 minutos de duração, A matemática no divã vai ao ar no primeiro domingo de cada mês, sempre às 10 horas da manhã. Coproduzido pelo ICMC em parceria com a Rádio UFSCar, o programa também está disponível no formato de podcast nos sites da Rádio UFSCar e no Spotify. O projeto foi um dos 47 selecionados na última chamada pública da Rádio. Além disso, todos os episódios A matemática no divã podem ser replicados livremente, pois possuem uma Licença Creative Commons – Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.