Empresas que ofertam vagas afirmativas ainda são minoria no Brasil
Em busca de espaços mais diversos, equidade racial precisa ser vista como pauta prioritária nas instituições dentro da agenda ESG
Maria Eduarda Lopes foi contratada há menos de um mês para o seu segundo emprego. Com 19 anos e autodeclarada parda, ela procurava uma recolocação quando se deparou com a disponibilidade de vagas afirmativas no Grupo Marista, em Curitiba (PR). Segundo ela, não é comum encontrar oportunidades como essa em canais de recrutamento e ela viu ali uma chance. “O mercado de trabalho tem se mostrado muito concorrido. Com pouca experiência, é difícil conseguir se encaixar em vagas com exigências específicas. Nunca havia me candidatado para nenhuma vaga afirmativa, mas foi uma oportunidade muito boa. Vejo essas vagas como uma forma de reparação, uma forma de viabilizar o acesso ao mercado de trabalho”, declara.
O novo processo seletivo com a abertura de vagas afirmativas para pessoas pretas e pardas é válida para todas as oportunidades ofertadas pelo Grupo, que atua nas áreas de educação e saúde em vários estados do país. “Desde julho deste ano, temos disponibilizado todas as nossas vagas prioritariamente para pessoas pretas e pardas durante 30 dias. Se as vagas não são preenchidas, são abertas para o público em geral. Nosso foco é ampliar a representatividade étnico-racial em nossas equipes e garantir que mais profissionais com histórias e vivências diversas tenham acesso às oportunidades de crescimento conosco”, define a coordenadora de Atração e Inclusão do Grupo, Tania Mior Botemberger.
A iniciativa foi planejada a partir da realização do Censo Marista, em 2022, que serviu para analisar, controlar e melhorar os indicadores de inclusão da instituição. O projeto trouxe um panorama do Grupo e, a partir dele, foram traçadas estratégias de melhoria para serem trabalhadas de forma assertiva e transparente em 2023 e nos próximos anos. As ações fazem parte do Programa de Diversidade e Inclusão, que abrange os pilares de raça e etnia, além de gerações (jovem aprendiz e +50), pessoas com deficiência (PcD) e equidade de gênero. “No meio empresarial, programas voltados às minorias têm ganhado força, visto que a sigla ESG está sendo pautada cada vez mais e tem sido colocada no topo das estratégias de cultura interna”, avalia o superintendente do Grupo Marista, Maurício Zanforlim.
Mais oportunidades para espaços mais diversos
As ações são o início para um longo caminho que ainda está por vir. Segundo a plataforma de seleção Gupy, 44% das empresas não têm como meta contratar minorias e apenas 23,7% abrem vagas afirmativas com regularidade. Além disso, somente 28,86% das empresas têm metas de contratação de grupos minorizados, independentemente de função e cargo.
Agora ocupando a função de ouvidora da Diretoria de Auditoria, Riscos e Compliance do Grupo Marista, Maria Eduarda avalia que um dos motivos que pode intimidar os candidatos é a falsa ideia de ser um processo burocrático, com mais etapas do que o normal. “No meu caso, uma das etapas era o envio de um vídeo e, no começo, fiquei com receio de mandar, achando que seria muito burocrático, mas à medida que fui avançando, percebi que é uma seleção como qualquer outra, com a grande diferença de dar oportunidade para pessoas que muitas vezes não têm”, finaliza.
A população negra é hoje o segundo maior alvo das ações afirmativas realizadas pelas empresas, ficando atrás apenas das pessoas com deficiência (PcD), que correspondem a cerca de 70% das vagas. “Estamos trilhando um caminho de transformação positiva visando à equidade nos espaços de trabalho e acreditamos que, ao proporcionar um espaço acolhedor e igualitário para todas as raças, construiremos um ambiente mais plural e preparado para enfrentar os desafios da diversidade do mundo contemporâneo”, comemora Tania.