Estudantes apresentam projetos para a Amazônia em maratona
O desafio feito a 45 estudantes de sete universidades brasileiras, no final do primeiro semestre, foi o desenvolvimento de produtos com matérias-primas amazonenses com foco no impacto socioambiental e destinados à comercialização no mercado internacional. Os projetos, apresentados e aprovados na quinta edição do Amazon Experience – Hackathon, realizada em parceria entre o CESUPA (Centro Universitário do Estado do Pará) e a PUC-Campinas, fazem parte, agora, de uma lista de diagnósticos desenvolvidos quanto à viabilidade financeira para que se transformem em empreendimentos.
Projetos que vão desde produtos faciais a papinhas para bebês, utilizando matérias-primas amazonenses com foco no impacto socioambiental e destinados à comercialização no mercado internacional, estão entre os três primeiros colocados na quinta edição do hackathon “Amazon Experience”, maratona de idealização e desenvolvimento deste tipo de empreendimento, desenvolvida e realizada em parceria entre o CESUPA (Centro Universitário do Estado do Pará) e a PUC-Campinas. O evento teve o patrocínio do ICE (Instituto de Cidadania Empresarial), por meio de seus programas de Coalização pelo Impacto e Universidades +Engajadas, e foi coordenado pelos professores Caio Fanha (coordenador do International Office do CESUPA) e José Antonio Olmos (assessor da Pró-Reitoria de Inovação da PUC-Campinas).
Após 15 dias de capacitação e mentoria on-line, estudantes de sete universidades brasileiras foram divididos em oito equipes para desenvolvimento, conclusão e apresentação de um pitch (exposição de ideias de produtos e de negócios para potenciais investidores). A seleção, feita por uma banca composta por docentes da PUC-Campinas e do CESUPA, tinha disponível para cada membro o montante de 10.000 “Amazon Coins” – uma moeda hipotética a ser atribuída a cada projeto, simulando assim uma decisão de investidores. Os três primeiros colocados foram os que receberam os maiores investimentos atribuídos pela banca. O mais importante é que os projetos fazem parte, agora, de uma lista de diagnósticos desenvolvidos quanto à viabilidade financeira, tonando-se, para os estudantes, já uma oportunidade para se transformarem em empreendimentos por apresentarem projeções econômicas, detalhamento de custos e estratégia de divulgação. “Oferecemos aos alunos a visão do que é a Amazônia, de como agregar valor ao produto para exportá-lo, de escolher a matéria-prima e transformá-la em produto, respeitando legislações, bem como a realização de planos de marketing”, explica o professor José Antonio Olmos.
Sobre os projetos e produtos
Dos nove estudantes da ECON (Escola de Economia e Negócios) da PUC-Campinas, três estão entre os principais finalistas. O primeiro colocado foi o projeto skincare em bastão MIA – Made in Amazônia. Trata-se de um bastão 4×1 que proporciona hidratação, tratamento, proteção solar e cobertura suave em um só produto, resumindo a rotina de skincare diária e facilitando a adoção do hábito no dia a dia. Vegano, cruelty free (sem a utilização de cobaias), sustentável e reciclável, o MIA leva em sua composição quatro exclusividades amazônicas: o óleo de andiroba (com ativos para hidratação profunda), é cicatrizante e estimula a regeneração da pele; a manteiga de cupuaçu melhora a elasticidade da pele, é anti-inflamatória e antioxidante; o óleo vegetal de buriti (rico em vitaminas A, C e E, em ácido oleico), estimula a produção de colágeno; e a manteiga vegetal de açaí combate os radicais livres gerados pelo processo oxidativo e auxilia na regeneração da pele.
“Da Amazônia, produzido por comunidades locais, para a sua pele”, informa o slogan do produto. Estudante dos cursos de Relações Internacionais e Geografia na PUC-Campinas, Victória Beatriz Soares lembra que produtos como o MIA auxiliam no desenvolvimento das comunidades envolvidas na cadeia produtiva e levam ao mundo o verdadeiro potencial econômico sustentável da Amazônia. “Historicamente, o mercado europeu é um dos maiores para cosméticos naturais brasileiros, possuindo especial destaque aqueles que são provenientes da Amazônia. Além disso, este mercado está intrinsecamente inserido no mercado de consumo consciente, um dos principais impulsionadores do mercado clean beauty”, revela. Nesse sentido, o MIA estaria pronto para entrar em um mercado aquecido, com projeção de faturamento global de, estimativamente, cerca de US$ 400 milhões até 2029″. Espera-se que somente o mercado europeu adquira US$ 82 milhões no período. Além de Victória, o grupo foi formado por Andrei de Maia Souza (Eng. da Computação / CESUPA) e Evelyn Rayane da Costa Mesquita (Administração / UFPA).
Papinha para bebês
O segundo colocado foi o projeto “Papinha de mandioca para bebês e embalagem biodegradável de caroço de açaí”. A pasta de mandioca foi utilizada como matéria-prima e principal insumo amazônico. Por ser rica em fibras, minerais (como o ferro) e vitamina C, auxilia na recomposição de nutrientes necessários para bebês a partir dos 6 meses. O produto foi pensado como uma contribuição ao combate à desnutrição infantil e à má alimentação de crianças por ingestão de alimentos ultraprocessados. “Combinada com outros insumos, essa papinha ajuda no fortalecimento do sistema imunológico de bebês. É de fácil ingestão e possui ação antibacteriana. Para o aquecimento da economia local, a estudante Gabriela Requeijo dos Santos, do 7º semestre de Relações Internacionais da PUC-Campinas, destaca o incentivo aos pequenos agricultores amazônicos para o fornecimento de insumos, como a mandioca. Outro benefício é a embalagem biodegradável feita do caroço de açaí, que é normalmente descartado. Gabriela acredita no interesse do mercado internacional por ser este um produto inovador, sem concorrência direta. No grupo de Gabriela estavam, ainda, os estudantes Sabrina de Oliveira Araújo (Arquitetura / CESUPA), Matheus Freire Alves (Eng. de Materiais / UFC), Leidiane Rodrigues do Nascimento (Administração / UNB), José Ryan de Oliveira Coelho (Ciência da Computação / CESUPA) e Nathali Nicéia Rosa da Cunha (Ciências Econômicas / PUC-RS).
“Buriti Sérum”
O terceiro colocado foi o projeto “Buriti Sérum”, um produto facial com ingredientes 100% naturais, com propriedades antioxidantes, hidratantes, medicamentosas (útil no tratamento de doenças anti-inflamatórias da pele) e de proteção solar (grande concentração de betacaroteno). Conta, ainda, com o diferencial da embalagem reutilizável e reciclável. Além do óleo de buriti, o produto é composto por óleo essencial de rosa mosqueta (rico em ácidos graxos, ômega-3 e ômega-6, que ajudam a regenerar a pele e a reduzir a aparência de cicatrizes e rugas), óleo de jojoba (combate a oleosidade, tem ação antioxidante e hidratante, serve como um escudo contra fatores como poluição e fumaça) e por ácido hialurônico (molécula que se liga fisicamente à água na pele para torná-la mais fresca e jovem).
De acordo com os estudantes, esse produto mais natural ainda pode chegar ao mercado pela metade do preço de alguns atuais concorrentes. Do projeto de divulgação proposto constam a “criação de conteúdo educativo e envolvente nas redes sociais, incluindo vídeos, infográficos e entrevistas com especialistas em conservação, cosméticos e medicina da pele” e a “organização de palestras nas lojas nas quais os produtos serão vendidos, para conscientizar os vendedores sobre a biodiversidade e a importância da Amazônia para o equilíbrio ambiental global, aumentando a probabilidade de vendas”. O projeto é assinado pelas estudantes Raissa Sousa de Oliveira (Ciência da Computação / CESUPA), Gabriela Grosskreutz Beretta (Rel. Internacionais / PUC-Campinas), Maria Eduarda Queiroz dos Santos (Administração / Mackenzie), Juliana Parenza Silveira (Ciências biológicas / PUC-RS) e Nubia Paltrinieri Mazzolini (Administração e Marketing / PUC-Campinas).
Desenvolvimento da Amazônia
“Para nós, o maior benefício é oferecer um olhar de dentro para fora da Amazônia sobre os diversos desafios que possuímos, mas, também, observar as diversas oportunidades. O Amazon Experience vem com uma ideologia de nos fazer pensar em preservação, mas em um contexto no qual possamos, também, desenvolver social e economicamente a região. Essa ideia de não “encostar” na Floresta Amazônica só é boa para quem não mora aqui, para os “de fora”, porque temos 25 milhões de pessoas aqui que precisam que a Amazônia seja desenvolvida. É importante mostrarmos a possibilidade de preservar a Floresta Amazônica – sem destruí-la – mas tornando-a propícia para o desenvolvimento social e econômico da região”, explica o coordenador no CESUPA, professor Caio Fanha.