Por que “mãe e filha” adoecem emocionalmente quando são amigas intimas?
Lari Pedrosa (*)
A mãe não é amiga da filha. Ela é a mãe!
Essa expressão não anula a possibilidade de “mãe e filha” desfrutarem de um relacionamento afetuoso e próximo, mas considera que é de extrema importância que a mãe se mantenha em seu lugar de orientadora, protetora e cuidadora da formação básica da filha. Tornarem-se amigas intimas reforça o adoecimento da mãe e deforma o crescimento da filha, já que elas são de gerações diferentes e se relacionam saudavelmente com amigas que compartilham a mesma fase da vida.
Em razão de seus momentos distintos, a mãe saudável abre espaço para o caminho da filha como mulher que, também de forma saudável, segue os seus melhores ensinamentos. A filha, em geral, precisa de uma certa distância da mãe para crescer, e a mãe, quando realmente está cuidando da própria vida, acompanha esse crescimento e sente segurança na formação que lhe dá. No entanto, a mãe que se comporta como “amiguinha” da filha, desfaz os limites necessários com ela e “perde” o seu lugar de maior.
Neste caso, quando a filha tem uma mãe que se comporta como ela, ou mesmo, precisa dela, inconscientemente, sente-se perdida e busca outra “mãe” em suas relações. Para que a filha possa amadurecer sem carregar tantas dores, precisa de uma mãe que assuma as responsabilidades da própria idade e não projete sua vida na vida dela.
Quando mãe e filha são capazes de vivenciar os ciclos separadamente, percebo que elas se tornam mais preparadas para se respeitar e, em consequência disso, a filha consegue confiar nas escolhas da mãe, não se envolve em seus problemas e tem mais facilidade para ter relações saudáveis (e respeitosas) com outras mulheres.
A mãe que se alimenta da vida da filha, a torna faminta da própria vida, pois com olhos sempre vigilantes, aprisiona-a em suas necessidades e dificulta que ela cresça como mulher. Por exemplo, a filha de uma mãe carente e deficiente de amor próprio, em grau máximo, talvez tenha dificuldade de se abrir para o autodesenvolvimento, dedicando-se a promover a vida da mãe. Ainda pequena, a filha descobre que pode acalmar o desconforto da mãe sendo atenciosa, carinhosa e adaptável aos seus vazios e ocupa o famoso lugar da “mãe da mãe”, pagando um preço alto quando compreende o que lhe custou.
Outro lugar perigoso de se tornar a “queridinha da mamãe” é quando a filha escolhe seguir a dor dela e passa a se sentir carente o suficiente ao compartilhar os sentimentos maternos na própria vida, um lugar onde mãe e filha se aquecem na mesma solidão. Essa filha acredita que a história difícil da mãe a impede de potencializar as próprias habilidades e, por ser vítima dessa realidade, tem uma forte tendência em sentir-se “amada” apenas se estiver servindo à mãe, tornando-a orgulhosa.
Quando a mãe diz para a filha: “O que eu faria sem você?”, mostra a necessidade de tê-la constantemente em sua vida, proibindo-a secretamente de formar outras relações de afeto. Daí se explica o motivo pelo qual algumas filhas ligadas à dor da mãe encontram-se afetivamente solitárias e não conseguem se realizar na vida a dois. Elas se ferem, gritando seus vazios nas relações abusivas e/ou mendigando por uma libertação, pelo simples fato de carregarem muita raiva de si mesmas.
(*) Lari Pedrosa – Terapeuta Sistêmica, Facilitadora e Escritora. Autora do livro – “Uma Nova Mulher – Curando a Conexão Mãe e Filha” (Literare Books International). Instagram: @larissepedrosa32